Os Donos do GPS

Olá leitor!

Segue abaixo um artigo publicado na revista ISTOÉ (edição  2176) e postado dia (22/07) no site "ISTOÉ Independente" destacando o Sistema de Posicionamento Global (GPS) americano.

Duda Falcão

Tecnologia & Meio ambiente

Os Donos do GPS

Quem são as pessoas que, em uma sala no interior dos EUA,
controlam o sistema que orienta aviões, encontra endereços e
torna possível acertar um míssil numa formiga a 2 mil km

Edson Franco
N° Edição: 2176
22.Jul.11 - 21:00
Atualizado em 25.Jul.11 - 10:56

Cada um dos 32 satélites utilizados pelo GPS (Sistema de Posicionamento Global) custa cerca de R$ 100 milhões. Se as informações que eles passam não forem interpretadas corretamente, aviões podem cair, navios a caminho da Índia correm o risco de parar na América e, em vez de cavernas no Afeganistão, os mísseis americanos podem acertar o Vaticano. O responsável por operar máquina tão cara e evitar tragédias dessa magnitude pode ter pouco mais de duas décadas de vida. É o caso do aviador classe A do Segundo Esquadrão de Operações Espaciais da Força Aérea dos EUA Jareo Brumfield. Ele tem apenas 22 anos.

VIGILÂNCIA
Três equipes de oito pessoas monitoram 32 satélites 24 horas

Jareo é um dos três operadores de sistema de satélite, fundamentais para a saúde do sistema que orienta nossos passos, voos e cruzeiros pela Terra. Ele controla satélites viajando a 14 mil km/h e repletos de peças que, a essa velocidade, seriam destroçadas caso fossem atingidas por uma meia de astronauta solta no espaço. “Toda informação que chega até os satélites passa por quem ocupa essa posição”, disse à ISTOÉ Marie Denson, segundo-tenente responsável pelas relações públicas na Base Aérea de Schriever, Colorado. É ali que fica o complexo de 16 km² onde é controlado todo o sistema.

Além de três profissionais como Brumfield, a sala de controle tem mais cinco cadeiras: uma é a do operador de rede, que cuida da comunicação entre a central e sistemas em terra; outra é a do analista de dados do sistema, responsável por checar e corrigir informações vindas do espaço; há ainda a do operador de veículos, profissional que entra em ação caso algum satélite saia da rota. Completam o time um chefe e um comandante. São três equipes que se alternam em turnos de oito horas.

Não é nada fácil ocupar uma dessas cadeiras. Os candidatos começam os testes 1,5 mil km distantes delas, na base aérea de Vanderberg, Califórnia. Durante seis semanas, recebem noções sobre GPS e como operá-lo. Os que passam por essa primeira peneira vão até Schriever. Dependendo do posto com o qual sonham, passam por treinamentos que duram entre 60 e 140 dias. E aí vira um funil. “Um teste final define os pouquíssimos aprovados”, afirma a segundo-tenente Marie.

Tanto critério na seleção se justifica. Esses profissionais têm nas mãos a responsabilidade de controlar os mais precisos relógios feitos por mãos humanas. Toda operação do GPS depende do sincronismo e da precisão absoluta dessa constelação de satélites bailando no espaço. Graças ao controle do horário, é possível aos operadores coordenar as máquinas para que, a todo tempo, seja possível “ver” quatro delas ao mesmo tempo em qualquer ponto da Terra (leia quadro abaixo). Um milésimo de segundo no espaço pode significar dezenas de milhares de quilômetros na superfície.

A escolha dos candidatos também passa por um processo que evita, por exemplo, a entrada de um sabotador. Mas a maior preocupação com segurança está longe do departamento de recursos humanos. Tudo no GPS é controlado por PCs, e computador é sinônimo de vulnerabilidade. As vacinas digitais mais poderosas do mundo têm dado conta desse recado, mas há outros perigos. Em um estudo publicado no começo deste ano, o professor Martyn Thomas, da Universidade de Oxford, mostrou que uma gambiarra numa antena poderia desordenar o serviço de GPS em todo o sul da Inglaterra, fechando aeroportos, interrompendo operações bancárias e, claro, levando motoristas para o lado errado. “A probabilidade de algo assim ocorrer é baixíssima. Parte dos satélites GPS hoje tem como funcionar independentemente do controle terrestre por até 180 dias”, pondera o professor-doutor João Francisco Galera Monico, do Grupo de Estudos em Geodésia Espacial da Unesp.

Na Base Aérea de Schriever são controlados dois tipos de GPS. Além desse cujos resultados aparecem em qualquer táxi, há um outro mais preciso, mas de uso restrito aos militares. Com ele, um destróier faz um míssil entrar numa chaminé há 2 mil km de distância. Essa versão mais completa não dá nem para comprar. Mas a primeira é de graça. E isso não significa falta de qualidade. Neste exato momento, há oito homens e mulheres empenhados em garantir isso.



Fonte: Site ISTOÉ Independente

Comentário: Pois é leitor, parabenizo a revista ISTOÉ por abordar esse assunto de extrema importância para um país como o Brasil, especialmente agora que todas as atenções estão voltadas para o nosso país. O sistema GPS nos coloca sobre total dependência dos americanos e não é por acaso que para fugir disso a Europa partiu para o desenvolvimento do Sistema Galileo, os russos para o desenvolvimento do sistema GLONASS e os chineses para o seu próprio sistema. Lembro-me que em parte a nossa comunidade científica representada pelo INPE lançou no início dos anos noventa um sistema que não era exatamente um sistema de posicionamento global, mas que se fosse realizado poderia servir como experiência para hoje estamos lançando (ou próximo de lançar) os satélites de nosso sistema próprio. É claro que para tanto dependeria que o VLS já estivesse disponível, coisa que como sabemos não foi possível devido em grande parte pela omissão de diversos governos subseqüentes que culminaram no acidente de 2003. Tratou-se do “ECO-8 SYSTEM” ou “Programa Equatorial Constelation Orbit”, que era um sistema formado por doze satélites (11 em operação e um de reserva) posicionados a 2000 km de altitude, que tinha como objetivo assegurar os serviços de telecomunicações celular, fixo e móvel de voz, dados e pagers. Esse sistema tinha sido projetado para suprir as necessidades da zona tropical na época, caracterizada por regiões remotas e de baixa densidade populacional onde as principais fontes de renda eram provenientes das atividades rurais. Infelizmente a falta de atitude e visão de diversos governos subseqüentes garantiram a não realização do programa impedindo que esse sistema fosse desenvolvido e impedindo que o Brasil desse o salto tecnológico que certamente levaria hoje estarmos próximos de desenvolver o nosso próprio sistema de posicionamento global. Um tremendo erro histórico que infelizmente continua sendo praticado nos dias de hoje.

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