Thales Alenia Space e seus Planos para o Brasil

Olá leitor!

Segue abaixo uma nota postada hoje (07/10) no blog “Panorama Espacial” do companheiro jornalista André Mileski, trazendo informações sobre os planos da empresa europeia “Thales Alenia Space” para o Brasil.

Duda Falcão

Thales Alenia Space e seus
Planos para o Brasil

André Mileski
07/10/2012

Na última sexta-feira (5), o blog Panorama Espacial / revista Tecnologia & Defesa encontrou César Kuberek, vice-presidente da Thales para a América Latina, agora baseado em São Paulo (SP), e Christophe Garier, executivo da Thales Alenia Space (TAS)* responsável pelo mercado latino-americano no segmento de comunicações.

A conversa teve como pano de fundo o projeto do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC), atualmente a principal concorrência de satélites no continente sul-americano, mas também girou em torno de outros projetos e interesses da companhia franco-italiana na região, em particular plataformas de satélites de órbita baixa para aplicações variadas.

Garier veio ao Brasil para entregar informações técnicas solicitadas pela Visiona, joint-venture da Embraer e Telebrás responsável pela contratação e integração do sistema, que emitiu uma nova solicitação de informações (RFI, no jargão em inglês) para os principais fabricantes de satélites de comunicações. De acordo com o executivo, existe a expectativa de que todo o processo, desde a RFI até a assinatura do contrato leve de cinco a seis meses. Assim, é possível que a definição do fabricante se dê no início de 2013.

Com o intuito de entender a estratégia da TAS para o SGDC, questionamos acerca da possibilidade de apresentação de uma proposta conjunta com outros fabricantes europeus, com apoio unificado do governo francês, prática bastante fomentada em algumas concorrências no exterior, como na Espanha e Noruega (programa Hisnorsat, que acabou sendo cancelado) e Oriente Médio (Yahsat e Arabsat 5C), e já abordada aqui no blog (ver a postagem "SGB e o fratricídio francês", de abril de 2012). "Uma das maiores limitações desse projeto é o tempo", respondeu Kuberek, indicando que uma proposta conjunta poderia exigir mais tempo para a entrega do satélite. "E depende do que o cliente quer", complementou. O governo brasileiro, segundo se apurou, não teria feito um pedido nesse sentido.

Christophe Garier discorreu sobre as credenciais da TAS em comunicações, particularmente em banda Ka (o SGDC terá capacidade em banda Ka e banda X, esta última para aplicações militares). Destacou os projetos dos satélites Yahsat e Arabsat 5C (construídos em parceria com a Astrium), a inovadora constelação de órbita média O3b, em desenvolvimento, e o sistema italiano de comunicações militares SICRAL (Sistema Italiana de Communicazione Riservente Allarmi). Envolvida em mais de vinte programas desde 1991, a TAS se considera uma fornecedora líder de componentes em banda Ka no mercado global de satélites. Garier também destacou a expectativa de que, uma vez selecionado o fabricante do primeiro SGDC, ocorra treinamentos acadêmicos e em fábrica de especialistas brasileiros, inclusive com transferência de know-how em design de satélites.

Transferência Tecnológica

Indo além das comunicações, o VP da Thales para a região citou a intenção da TAS em promover transferência de tecnologia em vários domínios espaciais, em linha com as estratégias de desenvolvimento adotadas pelo Brasil. O escopo poderia cobrir uma número de áreas, como gerenciamento de projetos e design de sistemas, integração de satélites e seleção de tecnologias chave. O executivo deu especial ênfase à disposição da empresa em transferir tecnologia de plataformas para satélites de órbita baixa, muito utilizados para aplicações como de observação terrestre, ambientais e científicas. César Kuberek mencionou que até 2025, o Brasil demandará dezenas de satélites para diferentes aplicações, como comunicações, meteorologia e observação, muitos deles em órbita baixa. Ressaltou que a transferência se daria no nível mais alto, com fabricação local, envolvendo inclusive acordo de vendas pela receptora da tecnologia no País para mercados específicos em que o Brasil tenha maior influência.

Kuberek fez questão de citar os casos de transferência de tecnologia da Thales em radares de banda L para a sua subsidiária industrial no País, a Omnisys, e também dos sistemas de sonares que equiparão os submarinos S-Br adquiridos pela Marinha do Brasil junto à DCNS, para demonstrar o comprometimento do grupo nessa direção.

Panorama Regional

Embora o principal, o SGDC não é o único projeto espacial no comunicações no continente latino-americano, e a TAS está atenta às outras oportunidades. Os governos de países como o Peru, Colômbia, Chile, Nicarágua e Panamá têm considerado, com diferentes intensidades, a aquisição de sistemas espaciais de comunicações.

No âmbito comercial, há expectativa de que nos próximos meses a Star One, subsidiária da brasileira Embratel, dê início a contratação de um novo satélite, o seu primeiro com capacidade em banda Ka. Comenta-se que o satélite será chamado Star One D1, com o "D" indicando o início da quarta geração (a primeira foi chamada Brasilsat A, a segunda Brasilsat B, e a terceira Star One C).

Na Argentina, também é aguardado para o final do ano uma solicitação de propostas para fornecimento de subsistemas (cargas úteis, subsistemas de serviços como propulsão e controle, entre outros) para o terceiro satélite da família ARSAT, em construção pela estatal Invap, e parte do SSGAT (Sistema Satelital Geoestacionario Argentino de Telecomunicaciones). A TAS já fornece para os dois modelos da família as cargas úteis em banda C e Ku.

* A TAS é resultado da aliança espacial entre o grupo francês Thales (67%) e o conglomerado italiano Finmeccanica (33%), formalizada em junho de 2005. O outro componente da aliança entre os dois grupos é a Telespazio, unidade de serviços espaciais controlada pela Finmeccanica (67%), com a Thales detendo os 33% restantes. A Telespazio tem importante presença no Brasil (ver a postagem "Panorama da Telespazio no Brasil").


Fonte: Blog “Panorama Espacial“ - André Mileski 

Comentários

  1. Creio que foi o Brig. Eng Antonio Alvarenga Gomes, que falou que em 5 anos, se o orçamento para o programa espacial não diminuisse, o Brasil poderia estar totalmente independente na produção de satélites. Não foi uma noticia recente aquela referente ao avanço na tecnologia de propulsão satelital?

    A pergunta que faço é se isso beneficia ou prejudica o PEB. Porque se a transferencia de tecnologia dessa empresa europeia for "à la americana" certamente em nada iria beneficiar o nosso programa espacial...

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  2. Caro Israel!

    Isso é grupo, não haverá transferência nenhuma de tecnologia e sim repasse para a subsidiária da Thales no Brasil, ou seja, a Omnisys, empresa essa que foi vendida ao grupo Tales. Não foi por falta de aviso, sempre abordei aqui no blog esse problema que é gravíssimo, já que essas empresas como Omnisys, AEL, Optovac, entre outras, desenvolveram-se através de investimentos públicos e foram vendidas para grupos estrangeiros com total omissão do governo brasileiro. Isso é crime em qualquer país do mundo e o controle de toda tecnologia desenvolvida por décadas foi perdida, abrindo-se uma porta, principalmente porque essas empresas continuam com o status de brasileiras, escancarando as portas para esses grupos estrangeiros com o total apoio desses energúmenos que chamamos de representantes do povo. Uma vergonha e todos eles deveriam ir para o paredão de fuzilamento.

    Abs

    Duda Falcão
    (Blog Brazilian Space)

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  3. O Brasil perdeu o rumo da história em vários sentidos, muito devido a governos... Para dizer o mínimo incompetentes.

    Nem digo em relação a corrupção que não é exclusividade das "peças" atuais, mas em outros tempos, os interesses nacionais ficavam acima de várias coisas. Agora...

    No passado, a política externa usava muito o termo "pragmatismo", ou seja, assim como a grande potência do Norte, a nossa política externa era orientada aos interesses nacionais, principalmente econômicos.

    Então fazia sentido ser "amigo" dos países árabes, pois era uma região em constante conflito e um grande cliente da nossa, então importante, indústria bélica. OK, concordo que fomentar a indústria bélica pode não ser o "politicamente correto", mas os conflitos continuam lá e alguém fornece as armas...

    Onde eu quero chegar com isso? Nos incomparáveis anos 60 e 70, o Brasil soube tirar proveito dessa política externa "pragmática" e dos eventos daquele período do qual pudesse tirar partido. O exemplo que me chamou mais a atenção recentemente, por conta de um livro que eu li, foi o interesse dos Estados Unidos em monitorar a atmosfera quando dos seus voos sub-orbitais e orbitais preparatórios do projeto Apollo, que culminaram, devido a uma série de eventos, e oportunidades bem aproveitadas, com a transferência tecnológica COMPLETA dos mísseis Black Brant Canadenses, que na prática foi a origem de todos esses foguetes à combustível sólido que temos por aqui hoje em dia.

    Com o passar do tempo, isso, e várias outras coisas foram se perdendo. Se me perguntam hoje em dia, qual o objetivo do Brasil ser tão "amiguinho" do Sr. Ahmadinejad, eu não consigo entender. Será que isso tem um sentido "pragmático" que não conseguimos enxergar?

    Em suma, a coisa vai muito além desse pequeno satélite, mas em relação a esse possível acordo, hoje em dia, devido a toda a história de relacionamentos e acordos feitos pelo Brasil no passado, fico mais "confortável" com acordos com os Europeus do que com quaisquer outros.

    Boa sorte pra nós todos!

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  4. Eu reparei que eles se dizem "brasileiros" numa entrevista que a eles foi feita, o que estranhei, visto que os donos são europeus.

    Isso soa muito suspeito. Não quero jogar teorias a toa, mas parece que essa venda pode ter sido "consentida" pelo governo (ou por alguns governante$), que devem ter recebido a $ua parte. De outra forma provavelmente isso resultaria num escândalo.

    Esse "eu não vi, e nem tô sabendo" tá muito estranho. Pode ser que os gringos tenham percebido como funciona o bagulho: "é meter todo o mundo junto", e "partilhar bem as fatias do bolo", "movimentar os peões certos".

    Essas privatizações aí parecem ser coisa da moda entre os politicos daqui. Não me pronunciarei sobre esse ato supeito, porque parece já estar bem claro...

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