Crise na Ucrânia Ameaça Parceria de R$ 1 Bilhão Com o Brasil Para Lançamento de Foguetes

Olá leitor!

Segue abaixo uma nota postada hoje (10/03) no site do jornal gaúcho “Zero Hora” destacando que a crise na Ucrânia ameaça parceria de R$ 1 bilhão com o Brasil para lançamento de Foguetes.

Duda Falcão

Política

Programa Abalado

Crise na Ucrânia Ameaça Parceria de R$ 1 Bilhão
Com o Brasil Para Lançamento de Foguetes

Selado em 2003, programa ucraniano-brasileiro de lançamento
de foguetes, a partir do Maranhão, já consumiu R$ 1 bilhão

Klécio Santos,
de Brasília
Jornal Zero Hora
10/03/2014 – 06:02

O Veículo Lançador de Satélites é um
foguete desenvolvido no Brasil.

A crise na Ucrânia ameaça a parceria com o Brasil para lançar foguetes a partir da base de Alcântara, no Maranhão. O Cyclone 4, projetado por empresas ucranianas, corre o risco de não decolar. Se isso ocorrer, será desperdiçado cerca de R$ 1 bilhão, valor já investido pelos dois países no projeto, que pretende explorar serviços comerciais de lançamento de satélites.

A última previsão de lançamento era para o início de 2015, quando o Brasil sinalizaria ao mundo sua entrada no bilionário segmento de satélites e reabilitaria a base de lançamento de Alcântara, cuja imagem foi prejudicada pela explosão que destruiu o foguete brasileiro VLS-1 V03, em 2003. A princípio, o governo mantém o otimismo, mas já admite mudanças no calendário, dilatando prazos e prevendo novos atrasos diante da tensão militar no Leste Europeu:

— O acordo assinado entre o Brasil e a Ucrânia para a construção do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) e do Veículo Lançador Cyclone 4 prossegue normalmente. O cronograma estabelecido prevê o primeiro lançamento do foguete no final de 2015, podendo sofrer pequena variação ­— informa o brigadeiro Wagner Santilli, da Alcântara Cyclone Space (ACS).

O clima, porém, é de apreensão. No governo, há um jogo de empurra. A Agência Espacial Brasileira (AEB), que tem uma previsão orçamentária de R$ 300 milhões para investir no projeto, não quis se pronunciar. Nos bastidores, comenta-se que não há o que fazer, a não ser acompanhar a evolução do cenário na Ucrânia. Ou seja, o futuro do projeto é incerto.

A ACS é uma joint venture binacional criada em 2006. Pelo acordo, o Brasil forneceria as instalações de Alcântara e, a Ucrânia, o foguete. A ACS é responsável pela criação do Centro de Lançamento de Alcântara, cujas obras estão 40% concluídas.

A situação da Ucrânia, contudo, só agravou ainda mais o arrastado projeto, fechado no início do primeiro mandato de Lula. À época da aprovação do acordo, em julho de 2003, a previsão era lançar o foguete em 2006. O acidente em Alcântara, ocorrido um mês depois, em agosto de 2003, adiou os planos. Em uma nova projeção, o então presidente Lula contava com o lançamento do foguete em 2010, no final do seu segundo mandato.

Atrasos de Repasses Prejudicam Projeto

Desde que foi assinada e aprovada no Congresso, em 2003, a parceria com a Ucrânia sofre com o atraso nos repasses de recursos.

A situação começou a melhorar em 2011, já no governo Dilma Rousseff, a partir da visita ao Brasil do então presidente Viktor Yanukovich, deposto no último dia 22 pelo parlamento, em meio a uma crise envolvendo a Rússia e a União Europeia. À época, os repasses foram regularizados, e o desenvolvimento do foguete — que se encontra 78% pronto — acelerado.

No ano passado, novamente, faltou dinheiro por conta do ajuste fiscal no Brasil e da situação econômica da Ucrânia, que já dava sinais de abatimento. Diante da situação financeira, o desenvolvimento do foguete deixou de ser prioridade e, no Brasil, os atrasos na liberação de recursos afetaram as obras em Alcântara.

Ou seja, mesmo que o projeto decole, há ceticismo de especialistas quanto ao retorno financeiro e à real capacidade do Brasil de se tornar uma potência espacial.

José Nivaldo Hinckel, especialista em propulsão espacial do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (INPE), considera o argumento de retorno econômico descabido. O lucro com cada lançamento é irrisório em relação ao custo do projeto, que comporta infraestrutura de lançamento e equipes envolvidas que não podem ser recrutadas e, depois, dispensadas. Hinckel lembra ainda que o custo anual de manutenção de um sistema de lançamento de satélites é elevado e que dificilmente a ACS obterá um ritmo superior a dois ou três lançamentos anuais.

— A ACS não poderá cobrar mais do que US$ 50 milhões (cerca de R$ 116 milhões) por lançamento. Fica claro que não há perspectiva de lucro para um ritmo de lançamentos inferior a uma dúzia, algo impossível de se alcançar nem na mais otimista das hipóteses — atesta ele.

Hinckel tem outras ressalvas e considera o programa tecnicamente "duvidoso" por conta dos propelentes (combustível e oxidante) usados no Cyclone, de alto potencial tóxico. Ele alerta que, se ocorrer um vazamento ou falha no lançamento, haverá riscos ao ambiente.

— É importante ter acesso ao espaço, do ponto de vista estratégico, mas nunca vi possibilidade de sucesso no projeto da ACS. Economicamente não é viável e, se o objetivo era salvar uma indústria que não tinha como sobreviver na própria Ucrânia, agora politicamente ficou mais difícil ainda — diz ele.

As Origens

Em 2003, Brasil aprovou e assinou acordo espacial com os ucranianos

O Acordo

— A preocupação com a soberania nacional pesou na escolha da Ucrânia como parceira do Brasil. Herdeira da escola espacial da antiga União Soviética, a Ucrânia domina a tecnologia de ponta na área. As tratativas se iniciaram no governo Fernando Henrique, que também negociava com os Estados Unidos a utilização da base de Alcântara. O tema foi um dos assuntos polêmicos da eleição presidencial de 2002.

— Lula prometia rediscutir o acordo se fosse eleito. Com a vitória dele, as tratativas com os EUA foram sepultadas. Eram alvo de críticas dos movimentos sociais e até da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que chegou a organizar um plebiscito, sem caráter oficial, sobre o assunto.

O Cyclone 4

— O foguete projetado para o Brasil é da família Cyclone, existente desde 1969 e com um histórico bem-sucedido. Em 226 testes de lançamento, houve só seis falhas. Um pool de 16 empresas estão envolvidas na construção do Cyclone 4, na cidade de Dnipropetrovsk. A nova versão terá alta precisão e aumento de 30% na capacidade de carregar combustível. O artefato tem vida útil de até 20 anos.

A Base

— O centro de lançamento é um complexo localizado na península em frente a São Luís, capital do Maranhão. Das bases que operam em regime comercial, Alcântara se destaca pelo trunfo geográfico. Devido à proximidade à linha do Equador, um lançamento em Alcântara gasta menos combustível do que os projetados das bases de Cabo Canaveral (EUA) e de Baikonur (Cazaquistão).

O Acidente

— Em agosto de 2003, ocorreu uma tragédia que adiou o desenvolvimento do programa espacial brasileiro. Um Veículo Lançador de Satélites (VLS), com 21 metros de altura e que colocaria em órbita dois satélites desenvolvidos no Brasil, foi acionado antes do tempo. Com a ignição prematura do VLS — provocada por uma peça que custa apenas US$ 10 —, a torre acabou explodindo, matando 21 profissionais. Uma delegação da Ucrânia estava no país para acompanhar o lançamento. À época, foi a terceira tentativa frustrada. Em outros dois testes com VLS, em 1997 e 1999, ocorreram falhas, e os protótipos tiveram que ser destruídos, logo após a partida.


Fonte: Site do Jornal Gaúcho Zero Hora - 10/03/2014 - http://zerohora.clicrbs.com.br

Comentário: Parceria essa que jamais, em hipótese nenhuma, deveria ter sido realizada, principalmente nas condições desse contrato ‘Candiru’ motivado exclusivamente por questões políticas de compensação partidária. Um tremendo desatino capitaneado por um debiloide irresponsável e endossado por um presidente humorista e tão irresponsável quanto. Tudo isso em nome da luta pelo poder, e portanto o resultado não poderia ser outro. Que bom que o Dr. José Nivaldo Hinckel tenha externado sua opinião nessa matéria, já que ele além de ser um especialista em propulsão sempre foi um dos ferrenhos críticos desse acordo.  Pois é leitor, 1 bilhão já investido nesse acordo, o que (se este número for verdadeiro, creio até que tenha sido um pouco mais) ‘em tese’ significa 500 milhões de reais investidos pelo Brasil. Recursos suficientes para os dois voos tecnológicos e o voo de qualificação do VLS-1, para o desenvolvimento de grande parte do VLM-1 e ainda sobrava dinheiro para outros projetos como a Missão ASTER, um projeto de grande significado científico, tecnológico, educacional e até mesmo político, pois colocaria o Brasil num grupo diminuto de nações capazes de realizar missões não tripuladas em espaço profundo. É extremamente lamentável a mudança de postura do Raupp quanto a este acordo desde que ele chegou a Brasília, inicialmente como presidente da AEB, e atualmente como ministro do MCTI. Confesso Raupp que como Brasileiro estou tremendamente decepcionado com a sua postura e atitude perante ao verdadeiro PEB. Realmente lamentável.

Comentários

  1. Ok, esta noticia eh um pouco mais realista que a ultima sobre o Cyclone-4.

    Ainda bem que existem jornalista que ainda publicitam FATOS e nao ficam ai criando ficcao sobre essa viagem sem volta que vai ser o lancamento desse foguete. Ao menos ficamos com a infra-estrutura de lencamentos... e isso eh menos mau.

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  2. Agora uma coisa foi bem lembrada...

    Quem firmou esse acordo pelo lado da Ucrânia, foi o "reizinho" lá deles (o amiguinho do Putin) que regularizou os investimentos do lado ucraniano em 2011 já no governo da nossa PresidentA, virando amiguinho dela também.

    E agora? Vai que o povo da Ucrânia finalmente se liberta dessas ditaduras populistas de uma vez por todas. Será que um povo independente vai querer continuar vendo o seu dinheiro suado sendo jogado num projeto sem a menor condição de ser comercializado?

    Como já disseram antes, e várias vezes, não se pode enganar a todos o tempo todo. Uma hora a corda arrebenta.

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